Antes de tudo, peço desculpas pela falta de atualização no blog. Foram poucas notícias relacionadas ao uso da bicicleta em Ribeirão Preto que mereciam publicações, sendo as mais relevantes postadas diretamente na página do Bike RP no Facebook. Alias o blog completou cinco anos de atividade e sequer relembrei o fato. De qualquer forma, todo o conteúdo publicado continuará disponível para pesquisa e fins informativos.
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Logo na primeira semana de 2018 uma nova polêmica surgiu: o fim do programa Ciclofaixa de Lazer, que funcionava todos os domingos das 7:00 as 13:00 e que ligava os parques prefeito Luiz Roberto Jabali (parque Curupira) e parque Luiz Carlos Raia. A ciclofaixa ocupava a terceira faixa junto ao canteiro das avenidas Maurílio Biagi e Carlos Eduardo de Gasperi Consoni.
Ciclofaixa de Lazer em funcionamento Via: ACidade ON |
Todo o caminho ocupado pela ciclofaixa era segregado com cones de sinalização e placas alertando para a velocidade máxima de 50 km/h (enquanto a ciclofaixa estivesse em funcionamento). Alem disso ela contava com uma equipe que auxiliava os ciclistas, alem do apoio dos agentes de trânsito da Transerp e distribuição de água feita por funcionários do Daerp. Também era disponibilizado um serviço de aluguel de bicicletas para quem fosse participar das atividades.
Durante os dias de funcionamento, era possível ver a presença de famílias inteiras que aproveitavam as primeiras horas de domingo para pedalarem. Muitos assim o fazem por não sentirem segurança em pedalarem pelas ruas de Ribeirão, ruas estas ocupadas por muitos motoristas irresponsáveis que tratam o ciclista como um "mero estorvo no trânsito".
Observação: Em fevereiro de 2013 fiz uma análise sobre a Ciclofaixa de Lazer. Confira no link abaixo.
Nos últimos anos o projeto foi mantido via parceria privada, sendo que prefeitura entrava apenas com o pessoal da Transerp e Daerp. No entanto, os prejuízos foram se acumulando até chegarmos na situação atual.
A comoção e revolta pelo fim do programa foi grande no Facebook e em poucas horas o número de mensagens lamentando o fato (ou mesmo elogiando) cresceu significativamente e numa forma desesperada de diminuir a repercussão negativa, a prefeitura anunciou que irá abrir um edital para que uma nova empresa possa assumir as atividades da ciclofaixa de lazer.
Criticas
Apesar da boa adesão dos frequentadores, as críticas ao projeto eram comuns. Muitas usando o argumento de que "a ciclofaixa só serve para atrapalhar o trânsito". Isso se dava ao fato dos retornos existentes na avenida serem fechados durante as atividades da ciclofaixa, obrigando o motorista a percorrer um caminho maior para cruzar a via.
Sim este era um problema real e que poderia ser resolvido colocando agentes de trânsito e pessoal de apoio nestes pontos críticos, fazendo assim a liberação dos retornos para os motoristas. No entanto nunca esta alternativa foi sequer utilizada.
Outra crítica, esta muito mais infundada, seria a de que "a ciclofaixa só era utilizada por ricos", ou que "apenas os burgueses da zona sul utilizavam a ciclofaixa".
Sério mesmo isso?
O fato da estrutura ser localizada na região sul da cidade, não impede que pessoas de outras regiões desfrutem da ciclofaixa. Na realidade este tipo de briga "ricos x pobres" é absolutamente estúpida e não acrescenta nada a discussão. Exemplo pessoal: estou longe de pertencer a "classe elitista de Ribeirão" e mesmo assim costumava pedalar pela ciclofaixa algumas vezes ao mês. Em suma, este argumento é completamente inválido.
A real sobre a Ciclofaixa de Lazer
O foco do blog sempre foi o incentivo ao uso da bicicleta para fins de mobilidade urbana (deslocamentos para trabalho, estudo, compras, entre outros), onde a pessoa possa contar com estrutura adequada e amigável para deixar sua bike. O mapa disponibilizado no blog indica todos os estabelecimentos comerciais e públicos que possuem (ou não) estrutura para acomodar as bicicletas de visitantes e clientes.
Aos poucos também fui ilustrando o problema da falta de ciclovias na cidade (atualmente não temos mais de 15 quilômetros), principalmente em comparação com cidades de porte semelhante. Sorocaba por exemplo, possui aproximadamente 126 quilômetros de ciclovias interligando vários pontos da cidade.
Realmente estamos muito atrasados em se tratando de estrutura cicloviária.
Uma das poucas esperanças existentes seriam o PAC da Mobilidade, anunciado em 2012 e apenas em 2017 oficializado pela administração atual. Alem das obras e intervenções viárias como viadutos, túneis, pontes e corredores de ônibus, foram anunciados 30 quilômetros de ciclovias paralelas aos principais eixos estruturais da cidade. É pouco, mas já é um começo.
Existe um Plano Cicloviário engavetado na prefeitura desde 2007 e até o momento sem previsão de ser implantado. O Plano de Mobilidade Urbana de Ribeirão também possui capítulos dedicados as ciclovias e igualmente sem previsões de sair do papel.
Avenidas como a própria Maurílio Biagi precisam de uma ciclovia de fato, algo que possa ser utilizado para deslocamentos diários durante a semana e para lazer nos finais de semana. A Ciclofaixa de Lazer já cumpriu seu papel e, na minha opinião, não deveria ser ressuscitada.
Por que devemos nos contentar com uma estrutura utilizada apenas para lazer, quando podemos ter algo definitivo e que possa ser melhor utilizado por todos?
As poucas ciclovias existentes não possuem integração e ficam localizadas nos extremos da cidade (com exceção da ciclovia Via Norte, que liga os bairros Simioni até as proximidades da Vila Tibério e Centro). Enquanto isso estamos gastando energia com um tipo de estrutura apenas temporária.
As poucas ciclovias existentes não possuem integração e ficam localizadas nos extremos da cidade (com exceção da ciclovia Via Norte, que liga os bairros Simioni até as proximidades da Vila Tibério e Centro). Enquanto isso estamos gastando energia com um tipo de estrutura apenas temporária.
Precisamos de foco! Brigas e xingamentos entre "ciclistas e motoristas" são desnecessárias e não acrescentam nada ao debate. A partir do momento que uma rede cicloviária eficiente começar a ser construída na cidade, muitas pessoas passarão a utilizar a bicicleta em suas rotinas. Grande parte dos motoristas apenas utilizam seus carros justamente por não terem outras alternativas eficientes. O resultado são os congestionamentos nos horários de pico e transito pesado ao longo do dia.
Quando esta pessoa passa a ter um transporte público de qualidade e opções seguras para utilizar a bicicleta, o impacto no trânsito é bastante significativo. Desta forma as vias serão utilizadas apenas pelas pessoas que realmente precisam.
Propostas realistas
Enquanto a prefeitura continua patinando sobre o tema, existem outras propostas que poderiam ser aplicadas em Ribeirão e aumentar significativamente o uso da bicicleta entre os moradores. Uma delas é o Ciclovias Entre Rios, que elaborou estudos e projetos de ciclovias que aproveitavam o máximo as regiões planas as margens dos principais córregos da cidade. Também é possível acompanhar pela page oficial no Facebook.
O blog Ribeirãotopia (do qual também sou responsável) também possui algumas propostas voltadas para o uso da bicicleta e que poderiam ser discutidas e cobradas de nossas autoridades. Segue a lista:
- Mapa Cicloviário de Ribeirão Preto 2016
- Readequação da ciclovia Via Norte
- Paraciclos e bicicletários
- Bicicletas compartilhadas
Outras podem surgir. O importante é nos concentrarmos nas soluções e não apenas nos problemas. Grupos, associações, entidades e principalmente poder público devem agir de forma responsável na busca pelas melhores alternativas.
Grato pela atenção e bom 2018 a todos!